Em 2018, 350 milhões de latino-americanos terão a chance de votar por uma mudança
Image: REUTERS/Tomas Bravo
Quando uma onda de eleições presidenciais varre a América Latina, geralmente contextualizamos o momento como um duelo entre a esquerda e a direita, socialismo e neoliberalismo, globalização e protecionismo. Em 2018, no Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Paraguai e Venezuela, um total de 350 milhões de eleitores latino-americanos, quase 80% da população da região, irá às urnas. A questão é se optarão por manter a situação atual ou se elegerão candidatos que prometem mudar a direção política e romper com a ordem atual.
Esse superciclo de eleições chega quando, segundo o Projeto de Opinião Pública da América Latina (LAPOP, na sigla em inglês), o apoio à democracia na América Latina está em acentuado declínio. A intensificação dos conflitos sociais e políticos, níveis estratosféricos de insegurança entre os cidadãos e graves escândalos de corrupção no México e Brasil (logo depois dos escândalos em Honduras e na Guatemala) continuam a criar problemas para a governança na região. Quanto à economia, projeta-se um crescimento maior em 2018 em relação a 2017, mas o crescimento continuará frágil, no patamar de apenas 2,2%, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), da ONU.
O último relatório sobre corrupção na América Latina, People and Corruption: Latin America and the Caribbean (As Pessoas e a Corrupção: A América Latina e o Caribe), que consolida os resultados da pesquisa Barômetro Global da Corrupção da Transparência Internacional e foi publicado em outubro do ano passado, constatou que as percepções de corrupção estão aumentando, o que torna o combate à corrupção uma questão essencial neste ciclo eleitoral. Das pessoas entrevistadas, 62% acreditavam que a corrupção havia aumentado na região nos 12 meses anteriores e apenas 10% acreditavam que havia diminuído.
A corrupção na América Latina talvez seja uma das endemias mais duradouras na região, que governo após governo não conseguiu erradicar. O aumento das percepções de corrupção poderia ser visto como algo positivo. Os atos de corrupção de alto nível sob investigação em toda a América Latina sugerem que as estruturas institucionais responsáveis por expor crimes cometidos por autoridades públicas estão finalmente funcionando.
Tudo isso indica um ambiente político à beira de um ponto de inflexão na América Latina. Isso incentivará a eleição de candidatos de plataformas menos estabelecidas que podem ser considerados mais bem equipados para lutar contra a situação atual?
Brasil: O presidente Michel Temer disse que ele não irá concorrer nas eleições em Outubro, enquanto o ex-presidente e atual candidato Lula da Silva está concorrendo ao mesmo tempo em que enfrenta acusações de corrupção. Essa situação deixa Jair Bolsonaro, um populista de direita e declarado defensor da antiga ditadura militar, em segundo lugar nas pesquisas de opinião pública, atrás do ex-presidente Lula.
Colômbia: A disputa presidencial mais fragmentada de todas. Há três grupos concorrendo à presidência. O primeiro é a coalizão conservadora liderada pelos ex-presidentes Uribe e Pastrana, cujo candidato é Iván Duque. O segundo é uma coalizão centrista liderada por Sergio Fajardo (Coalizão Colômbia) e o ex-vice-presidente Germán Vargas Lleras, de centro-direita – e preferência do presidente Manuel Santos. O terceiro é uma coalizão mais à esquerda do ex-prefeito de Bogotá, Gustavo Petro (Colômbia Humana), o antigo negociador chefe (representando o governo) do Acordo de Paz com as FARC, Humberto de la Calle (do Partido Liberal), e Rodrigo Londoño “Timochenko”, das FARC, que recentemente se tornou um partido político.
Costa Rica: Juan Diego Castro, do Partido de Integração Nacional (PIN), que apresenta uma pequena vantagem nas pesquisas. Ele é seguido por Antonio Álvarez Desanti, do Partido de Libertação Nacional (PLN), e Rodolfo Piza, do Partido Unidade Social Cristã
(PUSC). A pequena diferença que separa os três candidatos principais e a grande quantidade de eleitores indecisos indicam que os resultados são imprevisíveis.
Cuba: Projeta-se que o vice-presidente Miguel Díaz-Canel, o sucessor escolhido por Raúl Castro, ascenderá ao trono.
México:O candidato presidencial de esquerda, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), concorrendo pela terceira vez, está liderando nas pesquisas, provavelmente como uma reação nacionalista à atitude anti-mexicana do Presidente Donald Trump. O PRI, que está no poder, concorre com um candidato não tradicional que se apresenta como um “homem do povo”, com a esperança de atrair os eleitores desencantados, mas a estratégia não parece estar funcionando e “os cidadãos não estão engolindo a conversa tecnocrata de José Antonio Meade”, segundo matéria publicada no jornal The Guardian.
Paraguai: O país elegerá um novo líder no mesmo dia que a Venezuela – 22 de abril de 2018. O Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) e a Frente Guasú, de esquerda, com Efraín Alegre do PLRA como seu candidato presidencial, formaram uma coalizão de oposição denominada Grande Aliança Nacional Renovadora (GANAR) para tentar remover o Partido Colorado (ANR) do poder.
Finalmente, a Venezuela continua em um impasse político. A oposição decidiu ficar fora das próximas eleições, e um ex-chavista e antigo membro da coalizão de oposição, Henri Falcón, decidiu concorrer. Mas há incerteza até em relação à própria realização das eleições.
Tudo isso ocorre com um diálogo praticamente fracassado na República Dominicana como fundo.
Ponto de inflexão é a intersecção de alguns elementos que ajudam uma ideia a acumular massa crítica com um efeito viral irrefreável. A América Latina parece estar pronta para um evento dessa natureza, em vista do descontentamento profundo com as ineficiências da guinada esquerdista da última década, das percepções crescentes de corrupção, da economia sem brilho e da volatilidade do governo Trump.
Para transformar ideias em movimentos, é preciso que se tornem virais. Pela primeira vez, o número de pessoas de classe média na América Latina ultrapassou o das que vivem na pobreza. Esse poderá ser finalmente o momento em que o futuro da região passará para as mãos de uma maioria vigorosa e pragmática em vez de ideológica. Em grande medida inserida no centro político, a classe média poderá finalmente conquistar a autoridade para liderar a partir do centro e transformar a liderança ética em um conceito duradouro. É dela a decisão de continuar na mesma trajetória ou instigar uma mudança de curso dramática e há muito esperada na política latino-americana.
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Samir Saran
11 de noviembre de 2024