3 maneiras pelas quais o notável ciclo eleitoral desse ano pode remodular a América Latina
Image: Victor Sánchez Berruezo/Unsplash
Este é um ano crucial para a América Latina: o Chile começa o mandato de um novo presidente; há eleições no México, Colômbia, Paraguai, Costa Rica, Venezuela e Brasil; e a Argentina preside o G20.
Após um período de baixo crescimento nos últimos anos, a alta no preço das commodities e no consumo tem ajudado a impulsionar a atividade na região, e o crescimento global está previsto a se fortalecer. Com as duas principais economias na região saindo de uma recessão, o FMI tem elevado sua perspectiva na região para 1.9% em 2018 e para 2.6% em 2019.
Essa perspectiva econômica mais promissora e o amplo calendário eleitoral podem apresentar uma oportunidade crítica aos líderes regionais de abordar alguns dos desafios de longo prazo, desde corrupção e desigualdade de renda até produtividade e crescimento baixos, que têm travado o progresso. Ministros de finanças, CEOs mundiais e regionais e representantes da sociedade civil estão se reunindo semana que vem em São Paulo no Fórum Econômico Mundial para América Latina 2018 para indicarem quais os passos que cada comunidade pode tomar para lançarem as fundações de uma mudança de longo prazo na região.
A seguir, três temas essenciais para se prestar atenção durante o #la18:
1. Boa governança
Como os escândalos de corrupção têm enfraquecido os governos de algumas das maiores economias da região, há um forte desejo por mudanças e reforma. Embora o eleitorado de muitos desses países esteja buscando estabilidade e mais crescimento inclusivo, ainda há uma desconfiança significativa nas instituições e nos líderes. A tecnologia está emergindo como uma aliada da confiança e da transparência e como uma ferramenta efetiva em combater a corrupção. No México, por exemplo, o governo está usando um portal de dados abertos para contratos na construção do novo aeroporto da capital. O aeroporto é o maior projeto de infraestrutura a ser empreendido em décadas no país e o trabalho do governo com a OCDE resultou em 200 contratos disponibilizados no datos.gob.mx, usando padrões de dados abertos para contratação. Qualquer cidadão pode acessar online e revisar o dinheiro que está sendo gasto.
Um gasto mais eficiente do governo e o modo como o setor privado contribui também serão cruciais para se responder a alguns dos desafios da globalização. O fraco crescimento dos últimos anos tem negado à grande parte da população a mobilidade social com a qual ela tem crescido acostumada. Com a mudança da liderança de muitos países, comunidades afetadas estão provavelmente fazendo que se ouça suas demandas sobre a necessidade de mais gasto social em prioridades locais, seja em saúde, infraestrutura ou educação.
2. Reversão da desigualdade de renda
A América Latina tem uma das maiores taxas de desigualdade de renda no mundo apesar do enorme progresso desde o começo dos anos 2000.
O Brasil tem sucedido em reduzir as taxas de pobreza, em parte, através do programa social bastante estudado, Bolsa Família. O programa de transferência de renda para famílias que mantiverem suas crianças na escola e que as levarem para check-ups médicos tem sido estudado e adaptado em aproximadamente 20 países incluindo México e Chile. O Banco Mundial estima que, entre 2004 e 2014, o programa ajudou a reduzir pela metade as taxas de pobreza extrema de 9.7% para 4.3% e alcançou uns 50 milhões de brasileiros. Hoje, 15 anos depois de ter sido anunciado pela primeira vez, alguns economistas questionam se o programa desviou financiamento de serviços públicos essenciais ou se foi usado para fins políticos. Como a desigualdade continua um problema resistente por toda a região, quais alavancas adicionais podem ser puxadas e qual é o papel do setor privado em construir os condutores de longo prazo da produtividade que alimentam o crescimento inclusivo?
3. Investindo nas pessoas
Inevitavelmente, reverter a desigualdade de renda e trazer mais pessoas para fora da economia informal serão componentes vitais para uma prosperidade futura da região. A Quarta Revolução Industrial cria oportunidades para pequenos empresários atingirem consumidores globais através do comércio eletrônico e cria a necessidade por novas habilidades. Ela também está mudando o modo tradicional de desenvolvimento ao empresas não terem mais os fortes incentivos para terceirizar a produção em países com baixos níveis salariais. A inteligência artificial e a automação estão reduzindo a necessidade por trabalhadores de baixa qualificação e de baixa remuneração. Philips conhecidamente amparou sua produção de barbeadores elétricos de volta da China à Holanda para trazer o produto final mais próximo dos consumidores. Para administrar esses desafios, os países precisarão investir em infraestrutura digital e em infraestruturas imateriais da força de trabalho latino-americana.
A capacidade de inovação e engenho na região está subutilizada com aproximadamente metade da força de trabalho da região confinada no trabalho informal, privando firmas produtivas de recursos humanos que eles necessitam para crescer. Sem os recursos humanos e financeiros necessários, é difícil para as empresas se aprimorarem. O Fórum Econômico Mundial e a Corporação Financeira Internacional estão trazendo 50 start-ups latino-americanas à reunião para ajudá-las a fazer as conexões de que precisam para crescer.
Evidentemente, o impulso para uma integração regional e um ambiente de taxa de juros benigna permanecem como fatores úteis para o sucesso da região. Enquanto a perspectiva global permanece promissora e o calendário eleitoral apresenta oportunidade para progresso, 2018 pode ser o ano no qual são dados os passos para se elevar as perspectivas de prosperidade da América Latina.
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